PRECISAMOS FALAR DE SENTIMENTOS E EMOÇÕES





Para cego ler: um conjunto de carinhas com diversas emoções e sentimentos, semelhantes aos emoticones muito usados nas redes sociais.
Já fazem muitos séculos que não avançamos em relação a falar de nossos sentimentos e emoções. Construímos uma sociedade em que uma doença física – que pode ser vista, tocada e que se manifesta materialmente – tem mais atenção e as pessoas se sentem mais à vontade pra falar do que sobre as doenças emocionais, ou seja a saúde psicológica.

Da mesma forma, nossos pais ou a escola não nos ensinaram a expressar nossos sentimentos e emoções. Pelo contrário, desde os 2 anos de idade era comum ouvirmos coisas do tipo: 

“engole o choro!”; quando estávamos expressando uma frustração muito grande;

“não diga isso nunca mais!!”,  quando nos enfurecíamos por alguma coisa dos 3 aos 5 anos de idade; 

“você está sendo um MAL MENINO(A)”,  quando batíamos o pé ou quando insistíamos em algo que achávamos que estávamos com a razão; 

“cale a sua boca!!”, quando tentávamos argumentar sobre algo que julgávamos injusto naquele momento, seja na escola ou com nossos pais; e por aí vai... a lista é longa demais de exemplos que mostram como fomos educados para esconder sentimentos e emoções e nunca nos ensinaram como dar nomes à esses sentimentos e como expressá-los sem machucar ou ofender alguém.  
Tudo isso, sendo sufocado por longos anos, explode agora em doenças psicossociais. 

“Tal como existem vários problemas de Saúde Física (por exemplo, constipações, varicela ou asma), também existem vários problemas de Saúde Psicológica. Alguns dos mais conhecidos são a Depressão, a Ansiedade, as Fobias ou as Perturbações do Comportamento Alimentar.
Por exemplo, podemos andar muito tristes durante muito tempo, achar que não prestamos para nada e que ninguém gosta de nós. Podemos perder a vontade de fazer as coisas que gostávamos ou chorar muito. Em conjunto com outros sintomas, isso pode significar que temos um problema de Saúde Psicológica que se chama DEPRESSÃO. Ou podemos andar sempre muito preocupados e nervosos; não conseguir dormir bem; ficarmos sem apetite e sem nos conseguirmos concentrar. Quando isto acontece durante algum tempo, todos os dias, pode significar que temos um problema de Saúde Psicológica que se chama ANSIEDADE.

Ter um problema de Saúde Psicológica não significa que sejamos fracos ou “mariquinhas” ou diferentes das outras pessoas. Qualquer um de nós pode ter um problema de Saúde Psicológica, tal e qual como qualquer um de nós pode partir uma perna.” (http://escolasaudavelmente.pt/alunos/criancas/minhas-emocoes-pensamentos-e-comportamentos/minha-saude-psicologica)
Falar sobre uma dor no estômago, uma inflamação na garganta, uma dor de cabeça é mais aceito e bem vindo do que falar das CAUSAS REAIS DESSES PROBLEMAS FÍSICOS. O corpo apenas manifesta aquilo que fomos sufocando durante anos – emoções e sentimentos. Não costuma ser fácil expressar alguns sentimentos como raiva, tristeza, amor, etc. E se vamos guardando tudo isso, ao longo dos anos, vai se somatizando e gera stress e daí pra se expressar em doença física no corpo é um pulinho. Não fomos criados para guardar sentimentos e emoções ruins. Precisamos excretá-los como se excreta o que não presta para o nosso organismo daquilo que comemos ou bebemos. Daí a importância de falar sobre seus sentimentos e emoções e não guardá-los.

Segundo o site “A mente é maravilhosa” (https://amenteemaravilhosa.com.br/por-que-e-tao-dificil-expressar-sentimentos/) existem 6 motivos mais habituais que dificultam dizermos o que sentimos:

1) Perfeccionismo
Muitas pessoas pensam que os sentimentos negativos não deveriam ser sentidos, quando, na realidade, todo ser humano já sentiu alguma vez medo, raiva, ansiedade, tristeza, etc. Algumas pessoas os reconhecem e colocam para fora o que sentem, enquanto outros escondem pois pensam que é ruim se sentir mal.
O perfeccionismo neste sentido é um pensamento irracional, porque não há seres humanos perfeitos que não se sintam mal alguma vez. A maior valentia é reconhecê-lo. Esconder e guardar o que se sente, a longo prazo, poderia causar problemas para a saúde. Caso não seja possível se expressar dentro de um ambiente de confiança, pelo menos seria bom escrever e liberar toda a negatividade sentida.
2) Medo da rejeição
Com frequência, o medo da rejeição está por trás da incapacidade de mostrar sentimentos, sobretudo os relacionados ao amor. Costumamos acreditar que se nos declaramos e não formos correspondidos, será humilhante, quando, na realidade, não sermos correspondidos não é algo tão ruim, não tem nada a ver com valor pessoal.

3) Medo de entrar em conflito
O medo de entrar em conflito consiste em não expressar as opiniões pessoais para não causar dano ou incomodar os outros. Esse medo de incomodar costuma ser das pessoas que não se veem capazes de enfrentar uma discussão calorosa, e temem não estar à altura quando o outro perder o controle das emoções.
Com esse medo, a tendência é fugir dos problemas em vez de enfrentá-los com as nossas opiniões, o que poderia afetar a autoestima, já que ficar quieto para não incomodar ou não causar danos indica que damos mais importância aos demais do que a nós mesmos. É preciso expressar nossas opiniões pra saber quem realmente nos aceita como somos e quem não.

4) O poder da adivinhação
Consiste em se manter em silêncio. Não falamos sobre os nossos pensamentos porque acreditamos que os demais são obrigados a saber o que acontece conosco. Sem expressar o que sentimos, desejamos que os outros adivinhem e nos ajudem sem precisarmos pedir.
Isso costuma acontecer em famílias ou amizades íntimas, pois acreditamos que, pelo fato de nos conhecerem bem, deveriam saber o tempo todo o que ocorre conosco, e por isso deveriam nos ajudar justamente no momento em que precisamos.
É um pensamento muito errôneo, porque por mais que nos conheçam, é difícil adivinhar do que cada um precisa e o que sente em cada momento.

5) Dar tudo como perdido
Consiste em ter um pensamento tão negativo que acreditamos que, por mais que expressemos nossos sentimentos, o caso não terá solução. Então, a pessoa não libera o que sente porque não acredita que algo possa ser solucionado.
Essa falta de esperança pode desencadear um grande mal-estar e tristeza, porque sem uma visão positiva e esperançosa, pode-se cair no estancamento. A pessoa se deixa levar pela corrente sem fazer esforço, porque pensa que nada poderá ser feito, por mais que se diga o que sente.

6) Baixa autoestima
Uma baixa autoestima provoca a incapacidade de expressar sentimentos. Quem sofre com ela pensa que não tem o direito de pedir nada e que a sua opinião própria não interessa aos demais, de forma que é preferível guardar as coisas.
Se a própria pessoa não enxergar seu valor, não acreditará que vale a pena expressar-se diante do mundo. Devemos lembrar que cada ser humano desse planeta pode fazer algo valioso e pode ser importante para alguém. Sempre é possível ser brilhante em alguma faceta, então dê-se o valor que você merece, já que temos os mesmos direitos de qualquer outra pessoa.

Para cegos: no centro da imagem duas mãos segurando delicadamente um coração invertido. No alto da imagem, a palavra transformador, em letras maiúsculas a palavra DOR.

Da mesma forma que acontece com os Problemas de Saúde Física, a maior parte dos problemas de Saúde Psicológica não duram para sempre. Numa determinada altura podemos ter um problema e depois deixamos de ter. E podemos sempre aprender a lidar melhor com o nosso problema e a viver uma vida boa e feliz.

Quando temos um problema de Saúde Física vamos ao Médico. Por exemplo, quando uma constipação não passa temos de ir ao Médico para ele nos ajudar a ficar melhores. Acontece o mesmo com os problemas de Saúde Psicológica, que também passam e também podemos resolvê-los. Só que às vezes precisamos de uma ajuda. Se quando estamos constipados vamos ao MÉDICO, quando temos um problema de Saúde Psicológica, vamos ao PSICÓLOGO, que é o MÉDICO DAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS.

De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), de 2017, os casos de depressão aumentaram em 20% na última década, sendo uma das doenças emocionais mais incapacitantes do mundo. Ainda de acordo com a OMS, 33% da POPULAÇÃO MUNDIAL sofre de ansiedade. São dados alarmantes para que TODOS OS PAÍSES repensem sua visão sobre a SAÚDE PSICOLÓGICA  e comecem a tratar dela com a urgência que requer. 

É URGENTE POLÍTICAS DE SAÚDE QUE INCLUAM COMO PRIORIDADE A SAÚDE PSICOLÓGICA, assim como é URGENTE NO SETOR EDUCACIONAL QUE SE INVISTA NA CAPACITAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA QUE SE ENSINEM NAS ESCOLAS AS COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS = são habilidades que você pode aprender; você pode praticar e você pode ensinar. Que nas Políticas de Assistência Social TODOS OS Centros de Referência da Assistência Social - CRAS – possam trabalhar com os pais para que eles também possam ter acesso à essas habilidades, afinal de contas a família ainda é a base fundamental da sociedade. 

Para cego ler: Duas maõs com os dedos entrelaçados e com carinhas de diversas emoções desenhadas em cada dedo. De cada dedo saem balões de falas com as palavras "autoconhecimento", "autonomia", curiosidade", "perseverança", "capacidade de superar fracassos", "estabilidade emocional".
“A GENTE ESTÁ FALANDO DE UMA MUDANÇA DE CULTURA, DE COMPREENSÃO DE VIDA, DO QUE A GENTE ACREDITA QUE É O SER HUMANO, O CONHECIMENTO, A APRENDIZAGEM E DE QUAL É O PAPEL DA ESCOLA”, explica Anita Abed, consultora da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação e Cultura). “O conhecimento em si deve ser amplamente significativo e prazeroso, algo da ordem socioemocional”.

Quem fez essa síntese de idéias, foi Jamille Galvão, uma professora de geografia, com 48 anos de idade completos, 23 anos de magistério, apaixonada pela sua profissão de educar e ensinar gente, diagnosticada em 2013 com fibromialgia, fadiga crônica, deficiência elevada de vitamina D,  com escoliose torácica-lombar em 1996, artrose na coluna, artrose coxo-femural em ambos os lados, síndrome do carpo em ambos os lados, glaucoma avançado com perda de campo visual em ambos os lados, descoberto repentinamente em 2013, junto com a fibromialgia, condromalácea patelar em ambos os joelhos, depressão e ansiedade desde os 11 anos de idade (até o diagnóstico da fibromialgia eu não sabia que as necessidades de solidão, melancolias e tristezas que sentia já eram sintomas da depressão porque fui ensinada a calar minhas emoções e ter medo de psicólogo porque “é médico de doido” rsrsrsrs. Atualmente afastada do trabalho para tratamento de saúde. 

Quando fui afastada foi que pude começar a pesquisar sobre minhas doenças e entender a relação íntima que existe entre o que sufocamos, o que não sabemos denominar e as doenças do corpo (vide livros como os da Cristina Cairo, Louise Hay “Você pode curar a sua vida”, Rudiger Dhalke  “A doença como linguagem da alma na criança” e a “A doença como símbolo”; Todos os livros de Augusto Cury; Camila Rowlands “A incrível conexão entre intestino e cérebro”; e para os educadores, sugiro o site do Instituto Ayrton Senna que traz as matrizes das competências socioemocionais e o livro da Ana Zurita, Atividades para o desenvolvimento da inteligência emocional). São só alguns básicos. 

Estou agora na fase de reaprender a viver com tantas limitações físicas. Ainda não aprendi.  Mas, já ajudo demais a minha filha de 5 anos a expressar seus sentimentos sem ofender ou magoar alguém, de forma que ela cresce saudável no corpo e na mente, graças à Deus e à essa doença maluca que é a fibromialgia, que me permitiu aprender pela DOR o que poderia ter sido ensinado com AMOR.

Espero que o texto ajude mais pessoas a repensar sobre o assunto e a mudar nossa forma de se relacionar conosco mesmo e com os demais. 

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