Sobre como eu passei a entender a fibromialgia em mim

Hj entendo porque desenvolvi a fibromialgia. Foi a única forma que meu cérebro achou para me proteger de mim mesma. 

Esclareço: essa é a minha compreensão; em termos de fibromialgia, já entendi a muito tempo que os sintomas são comuns, mas o motivo que levou cada pessoa a desenvolver essa doença são muito peculiares, específicos para cada um. 

Eu era workaholic  (fissurada por trabalho), perfeccionista,  preocupada com tudo e com todos, achava que eu era um Deus pra resolver e ajudar os outros (só não lembrava de ajudar à mim mesma); colocava a cruz dos outros nas minhas costas, achando que estava ajudando e que isso era um ato de solidariedade; nunca parava pra relaxar: minha mente era extremamente ativa pra resolver problemas e problemas nuca faltaram, desde familiares até no trabalho.

Vivendo desse jeito, eu já havia percebido que não podia mais continuar. Aos 42 anos de idade eu já percebia que estava mais do esgotada e que já havia sido resiliente por tempo demais, só que não sabia como me parar!! Eu me envolvia em mais trabalhos, mais problemas e aumentava a distância entre eu e eu mesma, entendem?  Eu achava que precisava sempre estar disposta pra resolver a vida dos outros. E acreditava piamente que eu tinha esse dever! Quando na verdade, o que eu fazia era isto: enquanto eu pensar e me preocupar com os outros, não preciso encarar os meus monstros, criados ao longo de múltiplos traumas psicoemocionais. Era uma armadilha pra mim mesma não me enfrentar e enxergar meus defeitos e minhas muitas dores. 

Foi quando meu cérebro,  pra me proteger, desenvolveu essa doença.  Uma forma de me obrigar à me respeitar, parar, aprender à descansar e me amar. Me ver. Perceber à mim mesma. Somente quando entendi isso foi que comecei a lidar melhor com as dores e diversos sintomas da fibro. E cheguei à esse entendimento quando mergulhei  (mesmo com extremo medo), dentro de mim. Olhei com olhar de adulta para os meus múltiplos traumas infantis e  traumas da adolescência. Encarei minhas portas fechadas à tanto tempo e ousei abri-las e fazer faxina ali dentro.

Joguei fora mágoas,  ressentimentos, raiva, ódio,  decepções... Era muito lixo acumulado na minha vida, mas nunca tratado, nunca tocado, nunca mexido. Trancados dentro de mim, escondidos até de mim mesma, eles já fediam há uns anos e por último,  começaram a se derramar na forma de doenças auto-imunes pelo meu corpo: tive hipertiroidismo,  infertilidade, urticária psicossomática, artrose de quadril antes do tempo, síndrome do carpo, ansiedade... Nenhuma delas conseguiu me fazer parar e me olhar e me entender.  Olhar para mim mesma com misericórdia. Perdoar a mim mesma. Amar-me. Só a fibromialgia!  Por isso, atualmente a respeito e agradeço. Se não fosse por ela, eu ainda estaria enlouquecida por aí,  sendo a competentíssima profissional que eu era,  sendo a competentíssima mãe,  esposa, irmã e filha, enfim uma versão perfeita da Mulher Maravilha.

Como descobri tudo isso, ou como entendi tudo isso dentro de mim? Foi entre os dias 29/02 e 07/03/2018, quando uma psicóloga muito amiga me recomendou realizar EMDR - uma abordagem terapêutica utilizada para reduzir sintomas de ansiedade, manifestações depressivas e para melhorar, de forma global, a saúde mental do paciente. Trata-se de um método especialmente eficiente em questões relacionadas a eventos traumáticos. Clique no link para entender como funciona esta terapia.

E eu já andava numa depressão severa por causa das limitações que a fibromialgia me trouxe. Eu queria carregar a cruz dos outros e não podia mais - isso me deprimia demais. Queria poder voltar a dar conta de trabalhar e não podia. Queria sair pra resolver problemas e não podia mais nem escutar um problema que já me dava crise forte de fibro  (o corpo gritando "sossega,  garotaaaaa!!! Tu não és Deus!!!!). Esses impedimentos forçados acabavam comigo, com minha auto-estima porque foi a única forma que desenvolvi para sobreviver em meio ao caos da minha infância, adolescência e vida adulta.

Somente qdo eu fiz 7 sessões de EMDR foi que passei a entender as minhas ações,  o porquê eu achava que devia ser infalível,  os motivos de eu não perdoar erros em mim, os motivos de não me achar merecedora de repouso e descanso... dentre muitas outras coisas. 

Depois das sessões,  estou na fase de por em prática a reprogramação dos sentimentos e adquirir novos padrões mentais. Não estou curada da fibromialgia mas, tenham certeza que já consigo reconhecer as artimanhas de meu ego para ser o meu próprio algoz. Aprendi a ser mais misericordiosa comigo mesma; aprendi a me achar digna de amor e respeito; aprendi que só posso viver o instante e não ficar vivendo num pseudo futuro (porque ninguém pode antecipar os fatos), aprendi os motivos de eu ser controladora de eventos;  e muitas outras descobertas sobre mim mesma. Com todas essas descobertas, entendo que a negatividade não pode mais ser o que predomina nos meus pensamentos.

Foi quando comecei a usar estes mantras como exercícios para mudar meu padrão de pensamentos e educar-me emocionalmente.

os mantras – vibrações energéticas produzidas por sons sagrados – são capazes de aquietar a mente e apaziguar o coração, o que garante um profundo bem-estar emocional. Entoadas repetidas vezes, essas frases ainda têm o poder de elevar a consciência, funcionando como um meio de comunicação com o plano espiritual.


Resolvi escrever esses mantras, adaptados do site http://www.mariahelena.pt/pt/pages/11-mantras-poderosos-para-ter-uma-vida-feliz,  e colar ao lado da minha cama, onde atualmente passo a maior parte do dia devido às limitações do corpo.
E recito-os ao longo dos dias para ajudar a mudar o padrão de pensamentos. Mudando minha mente,  ensinando-lhe a viver de forma mais positiva, desfocar das tensões e ansiedades, deixando à cada dia o seu próprio mal. E vivo mais leve.

Depois das sessões de EMDR,  voltei a sorrir de forma franca; aceito o repouso e agradeço ao meu corpo por ter suportado por tanto tempo, as loucuras a que o submeti por causa dos lixos emocionais dentro de mim. Entendo com mais amorosidade e aceitação que meu corpo foi explorado muito além de seus limites e mesmo assim ele aguentou o trampo e me trouxe até aqui. Entendo que eu estava fugindo de mim mesma, de meus monstros. Se eu não dava mais conta de sofrer e ainda ser a eficiência personificada, o cérebro criou uma forma de me fazer parar!

Claro que para chegar nas sessões de EMDR, eu já vinha em contato com textos mais positivos,  textos que me ajudavam a edificar, a ser mais grata e amorosa comigo mesmo.  Os textos da Lia Gonçalves foram um dos que mais me ajudaram a ver o lado positivo das coisas, mesmo sendo portadora de fibromialgia, afinal a Lia Gonçalves é portadora de fibromialgia também e conseguiu uma forma de conviver com ela sem as crises violentas que eu tenho (ou tinha, até o mês passado - isso mudou desde as sessões de EMDR).  
Também para eu chegar nas sessões de EMDR,  eu já vinha fazendo psicoterapia pra me entender, há um ano. Eu já desconfiava do tamanho do lixo apodrecido dentro de mim mas; entrava em pânico de abrir as portas dentro de mim. Assim, afirmo que a técnica do EMDR jamais seria possível se eu já não viesse de meses de psicoterapia.

É preciso que mudemos. Mas, não podemos passar como um rolo compressor em cima de anos e anos e anos de múltiplos traumas,  múltiplas decepções e mágoas.  É preciso nos respeitar. E a gente msm percebe quando está pronta pra mexer no lixo. É preciso uma dose extra de coragem e saber entregar-se nas mãos do Criador, que está de braços abertos nos esperando para nos acolher. Lembrem-se dos 2 maiores mandamentos: "Amar à Deus acima de tudo" e isso inclui amar a sua criação, ou seja amar à tudo e à todos; e "amar ao próximo como à si mesmo".Como podemos amar (e consequentemente PERDOAR) ao próximo se não nos amamos ou não nos perdoamos? Não existe como.

Estou numa fase de reprogramar meu cérebro para isso. Uma vez entendido o que me movia a agir do jeito que agi até que meu corpo entrasse em colapso e me obrigasse à parar, agora posso dizer à minha mente e ao meu corpo, DE CORAÇÃO,  todos os dias, que eu agradeço pelo tanto de tempo que suportou minhas loucuras e ao perfeccionismo que eu mesma me impus;  da gratidão,  para a amorosidade é um passo muito pequeno. Sendo grata ao meu corpo, meu cérebro vem se desarmando e não tive mais crises severas. Só que não posso mais, mesmo, voltar a ser como era antes. Entendi que se eu fizer qualquer movimento pra voltar à ser a mulher maravilha, as crises vem, e virão SEVERAS.

Estamos em paz. Eu comigo mesma. Eu e a doença que meu cérebro produziu pra que eu pudesse parar com aquela vida louca de ser superpoderosa e só viver resolvendo desafios, problemas dos outros, perfeccionista e workaholic.

Gratidão,  gratidão,  gratidão. 🙏🙏🙏❤

Comentários

  1. Oi Linda! que felicidade vê-la nesse processo de autoconhecimento e perdão. Obrigada pelo carinho! Já és uma vence- dores e vencedora! Bjs

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    1. Obrigada, Lia. Vc tb fez parte desse processo. Sempre me auxiliando com suas mensagens edificantes e positivas. Gratidão.

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