Sobre recomeços

Fazem 11 meses que faço psicoterapia semanal. Já me sinto mais fortalecida pq consigo compreender as coisas do meu passado, dentro do contexto daquele passado, mas com a percepção da adulta que sou agora.

Percebi que não entendia ações da minha deusa  (minha mãe) e tinha mts perguntas pra fazer ao meu pai. Perguntas que, só agora percebo, não vão mudar o passado e e nem vão curar todos os traumas psíquicos que ficaram de uma infância e adolescência roubadas.

Qdo entrei pro magistério,  por conta dessas coisas vividas, eu não sabia o porquê mas, minha alma exigia que eu fosse pra escola pública, na base, ensino fundamental. E assim iniciei minha carreira em 1992.
De lá até 2012, ficava analisando e avaliando os alunos pelo seu contexto pq muitas literaturas, como a Inteligência emocional, me mostravam (e o o meu inconsciente me dizia isso) que se o ser humano não estiver bem minimamente com suas emoções,  vc pode criar a metodologia mais eficiente do mundo mas, o aluno não consegue ter um rendimento maior do que seus conflitos internos lhe permitem. A sobrevivência emocional é uma exigência maior do que a intelectual. O humano quer ser acolhido, compreendido e amado. E tudo que meus alunos da escola pública  (aqueles que são chamados de "impossíveis") expressavam era isso. Qdo um professor percebe isso e dá carinho e afeto, além do ensino, eles chegam até a nos chamar de "Mãe". Não deixam de gostar de suas mães,  mas querem que elas sejam o que eles esperam. O que todos nós esperamos de uma mãe. Me incluo aí nesse bolo.

Esse contato com os conflitos emocionais de meus alunos, me levou à ir abrindo, muito imperceptível pra mim, meus quartos fechados. Chegando ao ano de 2012 sem que eu entendesse o que tinha lá dentro pq estavam escuros!

Em quase um ano de psicoterapia e de várias técnicas holísticas,  consegui permitir que meus quartos escuros fossem iluminados e eu comecei a faxina. Aprendi que precisava desapegar do formato de família que eu tinha na minha mente e aceitar minha família,  amar minha história,  mesmo com dores e traumas psíquicos. Cada membro da minha família doou aquilo que tinha pra doar. Quem só conheceu a violência ao ser criado,  reproduziu a violência sem medida. Quem só conheceu a exigência do perfeccionista, escravizou nossas mentes e nos encheu de culpas e de não-aceitação das nossas limitações. 

Entendo o contexto em que foram criados fica mais fácil PERDOAR E ACEITAR. Amar a minha história com tds as suas facetas Boas e ruins. Eu havia apagado da minha memória as ruins (meus quartos fechados) e embarquei profundo nas coisas boas. Criei uma outra realidade pra poder sobreviver ao pânico que foi minha infância e adolescência. Isso deu certo até que comecei a ver à mim msm nas histórias de vida de meus alunos.  E qdo me confrontei comigo msm, a realidade vivida começou a brigar com a realidade criada e eu me sentia em pânico duplo: queria ajudar meus alunos a passarem pelo mesmo sem tanta dor (impossível,  né?  Mas, isso é uma prova de que na verdade eu tentava salvar à mim mesma, através deles) mas, ao msm tempo não queria enxergar a minha. Queria continuar com aquela tábua de salvação que criei pra sobreviver e isso significava que eu não os aceitava como eles eram.

Minha família me ama do jeito que foram ensinados. Cabe à mim, escolher o que fazer com essas formas tão diferentes da minha definição de amor. Eu vivia me culpando por não ser quem eles queriam que eu fosse e me culpava por não aceitá - los. Isso é tão louco que, de forma inconsciente, meu psíquico abriu todas as portas genéticas de doenças.  De 2012 pra cá,  desenvolvi glaucoma avançado  (não querer ver minha história real); gastrite crônica  (os nervos à flor da pele, sempre); piorei muito mesmo das dores pelas costas, ombros e quadril ( de tantos anos  carregando enormes pesos e fardos emocionais) . Até ser diagnosticada com fibromialgia e aparecerem todas as outras sintomatologias junto com a fibro - intestino irritável;  fadiga crônica; insônia; síndrome do túnel do carpo; fascite plantar e agora, mais recente, uma tireoidite crônica  (tb incurável mas,pelo menos a medicação vai controlar os sintomas tão parecidos com os da própria fibromialgia - que não tem controle, apenas paliativos pra dor e depressão). 

Entender que preciso amar minha história,  acolhê-la e aceitá-la é um primeiro e enorme passo para que eu me perdoe e os perdoe tb. Embarcar em seus contextos de vida me fazem entender porquê agiram da forma diferente da minha percepção de amar. Entendendo-os,  entendo minhas reações - retrato fiel do meu passado de conflitos e insegurança. Entendendo minhas reações posso começar uma nova história. Dessa vez, de aceitação,  compreensão e perdão. ❤

Me sinto cada vez mais livre de meus pesos e fardos emocionais. Começo a me amar e a fazer escolhas apenas para o meu bem estar e não para agradar outros. Começo a entender que não posso viver a vida do outro.  Se não dou conta da minha história,  como vou ajudar os outros a entenderem as suas? 

Estou nesta fase de caminhar. Iniciando uma nova história de vida: vivendo  a minha vida presente, com minha filha e esposo, exercitando e aprendendo a perdoar e amar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A síndrome do intestino irritável e a fibromialgia

Relação entre depressão, fibromialgia e dores crônicas

Como será o amanhã?